Comunicação Oral Curta

02/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC15.1 - Direito humano fundamental à saúde: identidade, dignidade e acesso ao sistema de saúde pela população LGBTQIAPN+

47512 - INTERSEXO NOVAS DESCOBERTAS DE UM ATIVISTA
JOÃO DE DEUS DE SOUZA PAIVA - UFRN


Contextualização
Começo essa carta de memórias para o 9º Congresso Brasileiro de Ciências Sociais e Humanas em Saúde contando minha experiência pessoal enquanto pessoa intersexo em um ambulatório médico, repetindo um pouco do conhecimento produzido hoje sobre as variações do desenvolvimento sexual. Fui diagnosticado com uma diferença genital logo no nascimento, a definição era de genitália ambígua que mais tarde foi redefinido conceitualmente como atípico, no qual ocorre quando a genitália não é o padrão macho ou fêmea, estabelecido socialmente. Essa diferença ocorre devido a alterações anatômicas, gonodais ou cromossômicas que levam a pessoa a ser definida como intersexo, termo colocado pela medicina em 1912, porém foi retirado e a partir disso foi usado diversos termos como hermafrodita ou pseudo-hermafrodita.

Descrição
Em 2006, no Consenso de Chicago foi definido como Distúrbios do Desenvolvimento Sexual.
Estima-se que a população com tal condição chega a 2% da população mundial. ou seja, uma pessoa a cada 50, o que se aproxima ao número de ruivos. Mas por que todo mundo sabe da existência de ruivos e de intersexo não? Devido muitos casos de intersexo não serem descobertos na infância ou adolescência e até mesmo na vida adulta.

Período de Realização
1 ano

Objetivos
Atualmente, existem mais de 50 condições intersexo e essas pessoas são vítimas de diversos tipos de abusos, o que faz com que elas fiquem com vergonha e sejam alvos de preconceito e discriminação. Na minha situação, não havia conhecimento do termo intersexo por parte dos profissionais de saúde, e sim do termo distúrbios do desenvolvimento sexual formulado no Consenso de Chicago. No consultório, havia uma preocupação extrema de saber qual foi o gene que fez eu ter nascido com uma genitália atípica, e não visando meu cuidado em saúde de uma forma holística, envolvendo o be

Resultados
bem-estar físico e psicossocial. Foi definido uma Insensibilidade Androgênica parcial ou PAIS. Da forma como vivenciei, vejo que necessitei de um acompanhamento multidisciplinar que envolvesse também profissionais de saúde que discutissem a sexualidade fora de uma ótica biológica, mas também humana. Que intersexo não é uma doença, e sim é uma variação da natureza.

Aprendizados
Me lembro de duas cenas que ficaram marcadas: uma foi ao adentrar no consultório e residentes me pedirem para que eu abaixasse a minha calça para que eles pudessem medir o tamanho do meu pênis e órgãos reprodutivos internos, lá estava deitado em uma maca onde só os médicos me viam. Me sentia invadido, embora isso acontecesse em quase todas as consultas. Outra vez, foi com 10 anos, os residentes que ficaram responsáveis por mim a fazerem perguntas em relação à alimentação, vida social e escolar. O docente responsável pela equipe começou a discutir o meu caso e disseram que eu não poderia ter filhos, instantaneamente alguns residentes choraram, pois tinham na concepção que o sucesso biológico de um indivíduo está ligado à reprodução. Naquele momento, compartilhavam tal sentimento de que minha condição seria um fator responsável pela minha tristeza.

Análise Crítica
Depois de um bom tempo, comecei a me questionar e aos médicos de que os cuidados que eu fora submetido não estavam corretos, de que era preciso mudanças visando uma melhor qualidade de vida da pessoa intersexo. Participei de uma tese que discutia sobre saúde, intersexo e adoecimento psíquico onde pude contribuir na pesquisa e também aprender mais sobre mim mesmo.